Alunas e mães: Aventuras e desventuras da maternidade durante a graduação
Confira a entrevista que o prof. Daniel Barsi realizou com Dayana Sousa, aluna do curso de Psicologia e mãe do Lucca; Heloísa Feitosa, aluna do curso de Direito e mãe do Gabriel e da Valentina; Lívia Kanashiro, aluna do curso de Direito e mãe da Catarina; Luana Karolina, aluna do curso de Arquitetura e mãe da Sofia e da Mariana; Samara Pinheiro, aluna do curso de Arquitetura e mãe do Elias e do Matias; Yara Nunes, aluna do curso de Psicologia e mãe da Maria Clara
Como você faz para organizar a sua rotina e se dividir entre as atividades maternas e as demandas da faculdade?
A rede de apoio é de suma importância para a construção dessa rotina, pois só por meio dela eu consigo conciliar e me dividir de forma harmoniosa entre a maternidade e os estudos, até porque, além da faculdade, ainda tem o tempo que dedico ao trabalho.
Dayana
Procuro listar as demandas a médio, curto e longo prazo. Como pela manhã deixo a Valentina na creche, então, nesse período, procuro resolver as minhas coisas. Durante a tarde, no horário do soninho dela, procuro colocar alguma matéria em dia. Mas sei que nem sempre irei acompanhar o planejamento, pois a criança não segue uma rotina exata, havendo momentos em que adoece, o que faz com que eu precise ficar mais tempo com ela, por exemplo.
Heloísa
A primeira palavra é: parceria. Meu marido, e pai da minha filha, é o meu maior incentivador e meu melhor amigo, então dividimos todas as atividades, tanto com o bebê como com a casa. A segunda palavra é exatamente essa: rotina. Desde o primeiro dia acostumei minha filha a ficar no bercinho ou no carrinho (comigo sempre perto), pois sabia que se não estabelecesse uma rotina de sono não daria conta das outras demandas, sobretudo da faculdade.
Lívia
Ainda não tenho conseguido organizar muito bem. Saio da faculdade às 11:30, chego em casa por volta de 13:00, sirvo o almoço das meninas e, em seguida, dou o banho. Pego o meu almoço e vou para o trabalho, retornando para casa somente às 23:30. Geralmente é a partir desse horário que consigo fazer algo da faculdade.
Luana
Para conseguir conciliar faculdade e maternidade tive que abrir mão do meu trabalho profissional, que já era de meio período, para acompanhar a rotina dos meninos, pois acredito que na primeira infância é fundamental a presença dos pais. Sim, somos privilegiados em poder fazer dessa forma, sei que não é a realidade para a maioria das crianças. A rotina é intensa, não tenho tempo para quase nada que não esteja relacionado à maternidade, faculdade ou ocupações da casa, sendo o turno da noite, depois que eles dormem, o período em que faço alguns trabalhos em que necessito de mais concentração.
Samara
Maternar e dividir essa função com a faculdade é algo extremamente difícil, pois quando as duas coisas estão presentes em sua vida de uma vez só fica muito complicado de lidar. Porém, eu tento me organizar sempre nos momentos em que a Maria Clara dorme. Entre uma soneca e outra eu realizo as atividades e os trabalhos pendentes, mas, na maioria das vezes, eu acumulo e deixo para fazer na faculdade mesmo, nas vezes em que passo o dia por lá.
Yara
Quais os maiores desafios de ser uma mãe estudante nos dias de hoje?
Deixar o bebê muito pequeno em casa, às vezes com babá, me faz sentir insegura. Por outro lado, quando estou em casa, sozinha com o meu filho, não tenho tempo durante o dia para estudar, e acabo me dedicando aos afazeres da faculdade somente quando ele dorme. Isso para não falar das vezes em que o bebê fica doente, o que me deixa preocupada, interferindo na minha concentração e na dedicação aos estudos.
Dayana
Antigamente nós, mães, tínhamos uma rede de apoio maior, podíamos contar mais com as nossas próprias mães, mas hoje em dia, como é o meu caso, a minha mãe não pode abrir mão de seu emprego. Também acredito que havia um leque de oportunidades com babás, e hoje, infelizmente ou felizmente, as coisas mudaram.
Heloísa
O cansaço é o nosso maior desafio, uma vez que a entrega da mãe a um bebê é tanto física quanto emocional, e, ao final do dia, estamos absolutamente exaustas. Outro obstáculo diz respeito à motivação, que temos que ficar sempre alimentando para não desistirmos da faculdade.
Lívia
Conseguir realizar as atividades no prazo. Com as crianças acostumadas a dormirem tarde, acabo saindo muito cansada para a faculdade, e, quando chego, já tenho que sair novamente. Lidar com o barulho também é um desafio, pois fica complicado para se concentrar. Como mexo com muitos lápis e canetas, as meninas sempre ficam em cima de mim, achando que estou brincando de desenhar.
Luana
Meu desafio atual é conciliar meus trabalhos acadêmicos com o lazer dos meninos. Estou planejando levar o computador para o térreo do meu prédio, pois posso fazer as atividades enquanto eles brincam ao ar livre, em contato com a natureza e os amigos. O segundo e maior desafio diz respeito aos estágios, pois adoraria estagiar durante toda a faculdade, mas ainda vou estudar as estratégias que criarei para lidar com isso da melhor forma.
Samara
Um dos maiores desafios para uma mãe que divide a maternidade com outra responsabilidade social é lidar com a culpa, pois a mãe sempre vai se sentir culpada por estar longe de casa e do seu filho, por mais que a criança esteja alimentada, protegida e com saúde. Outro desafio é o tempo. Costumo brincar dizendo que o dia de uma mãe deveria ter quarenta e oito horas.
Yara
Mesmo com esses desafios, o que te faz seguir em frente?
Meu foco é poder oferecer um futuro melhor para o meu filho, e minha formação está incluída nesse processo. Preciso me qualificar o máximo possível para ser uma excelente profissional e poder dar orgulho tanto para o meu filho como para a minha mãe.
Dayana
O que mais me faz querer seguir em frente é poder dar o melhor para os meus filhos e para a minha família. É quando eu penso no nosso futuro que vejo que tudo está valendo a pena, apesar dos sacrifícios.
Heloísa
A minha família! Uma vez, em um fórum on-line, o professor Haroldo Guimarães falou que as mães solteiras estavam entre os perfis com maior aprovação nos concursos públicos. Nessa época eu ainda não havia nem casado, mas pensei: “se elas conseguem, eu também vou conseguir quando chegar a minha vez”. Hoje eu tenho um motivo concreto para lutar pela formação, e essa motivação é maior que o meu cansaço.
Lívia
A infância complicada que minha mãe teve, a força que ela tem até hoje de acordar às quatro da manhã para ir ao trabalho, mesmo com problemas na coluna e no joelho. Isso tudo me motiva, bem como, claro, as minhas filhas, pois quero oferecer um futuro melhor para elas.
Luana
Sigo em frente porque a Arquitetura é a minha paixão, desde pequena! Adoro trabalhar em cada passo de um projeto. Também porque tem muita gente torcendo por mim e me ajudando a realizar esse grande sonho.
Samara
O que me motiva é alcançar o objetivo que tracei para a minha vida e dar o exemplo para a minha filha, de que, mesmo em meio às dificuldades, devemos seguir em frente, mas sem ultrapassar os nossos próprios limites, claro.
Yara
O que você gostaria de dizer aos colegas de sala – especialmente aqueles que não têm filhos – sobre você?
Aproveitem enquanto vocês têm tempo integral para se dedicarem aos estudos e à faculdade, pois a chegada de um filho é sempre um momento muito desafiador, que pode acabar – principalmente quando não há tanta compreensão familiar – limitando os seus planos e estudos.
Dayana
Gostaria que todos soubessem que, mesmo com as muitas dificuldades e as diversas pedras no caminho, eu não irei desistir, porque sei que lá na frente a minha vitória terá sabor de mel.
Heloísa
Que tenham muita empatia com nós, mães, porque nosso ritmo tende a ser diferente, nossas entregas podem até ser mais demoradas, mas os nossos sonhos são os mesmos. O apoio dos colegas é muito importante para não desistirmos, para chegarmos todos juntos e com êxito ao final da graduação.
Lívia
Meus colegas são todos maravilhosos. Às vezes posso demorar um pouco a visualizar as mensagens no whatsapp, mas quero pedir que eles não desistam de mim e que me ajudem ao longo dessa caminhada! E que não fiquem chateados quando eu não for para a FAS, pois eu realmente posso estar muito cansada. E se tiver um trabalho em grupo, não se preocupem, eu sempre irei fazer a minha parte, nem que eu vire noites para isso, pois jamais vou prejudicar alguém.
Luana
Adoraria contar com a ajuda dos meus colegas de turma, principalmente aqueles com quem faço trabalho em grupo. Não podemos deixar para realizar as coisas na última hora, porque imprevistos com crianças podem ocorrer. Entendo que cada fase materna é diferente, e uma mãe com crianças menores do que as minhas requer um apoio ainda maior da turma, pois o esforço para concluir o curso passa a ser sobre-humano. Termino agradecendo aos colegas que já têm me ajudado da forma que podem.
Samara
Sou muito grata por ter colegas que se colocaram em meu lugar (e também alguns professores, que se mostraram muito compreensivos). Ninguém faz ideia da batalha interna que as mamães que saem de casa para cumprir as atividades externas estão enfrentando, então, tentem sempre perceber o que há por trás de cada mãe que está ali, pois ela sai fisicamente inteira, mas sempre deixa o coração em casa.
Yara
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